domingo, 17 de dezembro de 2023

A história de Israel e o sentido do Natal


perguntaram: “Onde está o recém-nascido rei dos judeus? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo”. (Mateus 2.2)


Uma propaganda de há poucos anos em Belo Horizonte dizia: “O grande sentido do Natal está no nosso shopping”. Que trágica ironia! O sentido não está em algo que compramos, mas em uma história dada a nós como um presente. No Natal, o cumprimento da esperança de Israel se estende a todas as nações por meio de Cristo.


No Antigo Testamento, Deus gera e chama uma nação para ser instrumento de salvação para todos os povos. Porém, Israel se esquece de sua missão, escolhe ídolos, serve a si mesma em vez de ser luz para outras nações e abandona o Deus que a libertou da terra do Egito.


Após o cativeiro babilônico, mesmo depois do retorno do povo à terra, a nação de Israel continua metaforicamente em exílio, esperando um retorno do Salvador. Israel não mais conseguiria completar sua missão. Quando o mesmo Deus que resgatou seu povo do cativeiro agiria em fidelidade à sua aliança e estenderia sua bênção a todas as nações? Quem será o grande rei da linhagem de Davi?


O Emanuel, Deus conosco, entra na história! Em Belém, em um estábulo, fedido e cercado por animais, não em um renomado shopping. A entrada de Jesus no mundo, a encarnação dele, não é uma invasão cheia de pompa e fanfarras, mas um ato afetivo de sedução que nos chama ao seu coração.


O nascimento de Jesus continua e expande a história de como Deus lida com Israel. Jesus redefine quem é o povo de Deus – toda raça, língua, posição social – para que todos possam conhecer o amor divino e a oferta de salvação.


Pai, muito obrigado pelo presente de Deus em Cristo, que se tornou criança vulnerável. Porque não vieste como um exército invasor ou, heroicamente, em luxuosos shoppings brasileiros, mas vieste em simplicidade, dependência e fraqueza. Hoje olhamos para a manjedoura, olhamos para a cruz, olhamos para o túmulo vazio e participamos do verdadeiro sentido do Natal. Recebemos o melhor presente, te adoramos e te rendemos graças.


Fonte:  Refeições Diárias – Celebrando a ReconciliaçãoEditora Ultimato.

Foto: iStock

domingo, 3 de dezembro de 2023

Por que a zona de conforto é tão criticada se conforto é algo bom?


Dia desses, viajava aqui pelo mundão da internet quando li um título que me fez sentir absurdamente desconfortável. Dizia algo como “a vida começa onde termina sua zona de conforto”.

O texto, direcionado “aos que pensam e sonham grande, aos que são competentes e comprometidos com seus trabalhos”, conduzia o leitor a mergulhar nas possíveis vantagens de fugir ferozmente do território onde pudessem controlar os acontecimentos.

Por preguiça, soberba ou medo, sugeria a observação da zona de conforto como desperdício de talento passível de acarretar prejuízos à saúde, ao intelecto e à dimensão espiritual.

Fechei a tela do computador, respirei fundo e parei para pensar. Eu sei, você sabe, todo mundo sabe, trata-se de um tema polêmico e, ciente da crescente incapacidade de diálogo entre alguns grupos, ouso aqui hoje discorrer sobre meu sentimento em relação à tal afirmação.


É hora de questionar a ideia de produtividade constante

Sou profissional autônoma, comprometidíssima com as diversas e concomitantes atividades que diariamente cercam meu trabalho. Tenho sonhos. Os gurus do empreendedorismo que me perdoem, mas ser produtivo 24 horas por dia é sinônimo de saúde física e mental? Penso que não.

Imersos numa cultura de agitação, vivemos na roda viva em que a ordem é: produzir, produzir e produzir. Foguete não tem ré, dizem alguns. Numa profusão de informações, notícias têm atualização imediata, o WhatsApp apita sem parar, os e-mails lotam a postal. Os dispositivos de conexão nos cercam o tempo todo, pressionando para estarmos disponíveis sempre. Nem ouse não responder alguém em menos de meia hora – sabe-se lá o que dirão de você.


Zona de conforto ou zona de desconforto?

Tenho 52 anos, trabalho desde os 23 e por inúmeras vezes assumi posturas profissionais e pessoais inquietas, talvez pela imposição em fazer diferente do que eu mesma desejava, talvez por acreditar que a tal zona de conforto era um buraco negro que engoliria minha capacidade produtiva.

Com 39 anos, atravessei uma grande mudança profissional, ao migrar de burocráticas atividades jurídicas para o mundo manual/artesanal. Por bastante tempo me preparei técnica e emocionalmente para encarar a decisão, e tinha total ciência de que, àquela época, precisava mesmo era sair da minha zona de desconforto – o lugar onde me encontrava. Naquele momento, sabia que a mudança seria uma importante escolha. E foi!


A régua do sucesso varia de pessoa para pessoa

Há algum tempo, li no Vida Simples um texto assinado por Alessandro Fernandes que tratava exatamente do tema que hoje aqui discorro: a zona de conforto. Para o autor, a zona de conforto se tornou uma pedra no sapato na maioria das pessoas que passaram a se sentir incomodadas com seus modos de vida, ações e escolhas pessoais, profissionais e familiares.

“Somos constantemente influenciados a nos comportar de forma homogênea, perseguindo conquistas materiais, profissionais e familiares, uma eterna corrida para uma fantasia criada nas últimas décadas. Daniele Thomaselli considera isso um comportamento de rebanho, fazer aquilo que todo mundo faz, buscar aquilo que todo mundo busca. Definir sucesso e realização a partir da ótica socialmente aceitável e reforçada leva a um adoecimento mental”, explicou.

Minhas sensações foram ao encontro de suas palavras. Ufa! Não estou sozinha no mundo de quem quer viver, trabalhar, se relacionar, dentre parâmetros que façam sentido a cada um de nós.


A zona de conforto como refúgio

Na psicologia, a zona de conforto é uma série de ações, pensamentos e/ou comportamentos que alguém está acostumado a ter, que não lhe causam nenhum tipo de medo, ansiedade ou risco. Para mim, esse é lugar de auto refúgio. Um porto seguro de sensações.

A pesquisadora de Estudos Culturais e Urbanos, Mariane Santana, recentemente escreveu a respeito: “a zona de conforto é, na verdade, o lugar que deveríamos procurar. Um lugar onde exista segurança e acolhimento para se viver… e prosseguiu; que nossa vontade de sair dessa paralisia nos leve à produção do Bem Viver. Que possamos sonhar outros mundos, acolhedores, seguros, onde o conforto seja um presente, não uma ameaça”.

Na minha visão, zona de conforto nada tem a ver com letargia. É sensação de colo de mãe, abraço de amigo, bolo com leite condensado, livro no sofá, um sussurro no ouvido dizendo “respeita teu tempo”.

Visite a sua zona de conforto, nem que seja esporadicamente. Há de lhe fazer um bem danado!


Beijos meus!


Por: Lu Gastal  - Colunista do Vida Simples