segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

A história do Natal - O relato do Evangelho muda a maneira de ler outras histórias | Timothy Keller

A história de Natal não é ficção, mas, ainda assim, eu diria que ela muda de uma maneira maravilhosa como interpretamos a ficção.

Pouco antes do lançamento do primeiro O senhor dos anéis, dirigido por Peter Jackson, uma série de artigos de críticos literários e de outras elites culturais lamentaram o apelo popular de fantasias, mitos e lendas, muitos dos quais (no modo de entender deles) promoviam pontos de vista retrógrados. Espera-se de pessoas modernas que sejam mais realistas. Deveríamos compreender que nada é preto e branco, mas cinza, que os finais felizes são cruéis, porque a vida não é assim. Na revista The New Yorker, Anthony Lane escreveu acerca do romance de Tolkien: “É um livro cheio de bravatas, e, no entanto, entregar-se a ele — sucumbir a ele [gostar de verdade dele], como muitos de nós fizemos em uma primeira leitura — revela […] uma relutância em enfrentar as nuances mais sutis da vida que beira a covardia”.[1] No entanto, Hollywood continua reciclando contos de fadas sob várias formas porque as pessoas têm fome deles.

Os grandes contos de fadas e lendas — A Bela e a Fera, A Bela Adormecida, O rei Artur, Fausto — não aconteceram de verdade, claro. Não são fatos reais. Contudo, parecem suprir um conjunto de anseios do coração humano que a ficção realista nunca é capaz de alcançar ou satisfazer. Isso acontece porque no fundo do coração humano existem esses desejos — de experimentar o sobrenatural, de fugir da morte, de conhecer um amor que jamais podemos perder, de não envelhecer, e sim viver o suficiente para concretizar nossos sonhos criativos, de voar, de nos comunicar com seres inumanos, de triunfar sobre o mal. Se as histórias fantásticas forem bem contadas, nós as consideraremos incrivelmente emocionantes e satisfatórias. Por quê? Pelo fato de, mesmo sabendo que na realidade essas histórias não aconteceram, nosso coração anseia por essas habilidades e conquistas, e porque uma história bem contada satisfaz momentaneamente nossos desejos, aliviando um pouco esse incrível anseio.

A Bela e a Fera nos fala da existência de um amor capaz de nos resgatar da brutalidade que criamos para nós mesmos. A Bela Adormecida nos conta que nos encontramos em uma espécie de feitiço do sono e que existe um príncipe imponente capaz de vir quebrá-lo. Ouvimos essas histórias e elas mexem conosco, pois no fundo do coração nós cremos, ou queremos crer, que esses fenômenos são verdadeiros. A morte não deveria ser o fim. Nós não deveríamos perder nossos entes queridos. O mal não deveria triunfar. O coração sente que, embora as histórias em si não sejam verdadeiras, as realidades por trás delas são de alguma forma verdadeiras ou deveriam ser. Mas a mente diz não, e os críticos dizem não. Insistem em que, quando você se entrega a contos de fadas e acredita de fato em absolutos morais, no sobrenatural e na ideia de que viveremos para sempre, nada disso tem relação com a realidade. É uma covardia entregar-se a esse tipo de ideia.

Chegamos então à narrativa do Natal. À primeira vista, ela se parece muito com outras lendas. Aqui está um relato sobre alguém de um mundo diferente que ingressa no nosso, alguém que tem poderes miraculosos, consegue acalmar a tempestade, curar e ressuscitar pessoas. Até que seus inimigos o entregam, ele é condenado à morte e parece que toda esperança se acabou, mas por fim ele ressuscita dos mortos e salva todo o mundo. Lemos isso e pensamos: “Mais um grande conto de fadas!”. De fato, parece que a história do Natal é mais um relato apontando para essas realidades subjacentes.

No entanto, o Evangelho de Mateus nega essa ideia ao fundamentar Jesus na história, não em um “Era uma vez”. Diz que isso não tem nada de conto de fadas. Jesus Cristo não é mais uma história adorável apontando para essas realidades subjacentes — ele é a realidade subjacente para a qual todas as histórias apontam.

Jesus Cristo veio do mundo eterno e sobrenatural que sentimos existir, que nosso coração sabe que existe, embora a cabeça diga que não. No Natal, ele abriu uma passagem entre ideal e real, eterno e temporário e ingressou em nosso mundo. Isso significa, se Mateus estiver certo, que existe uma bruxa má neste mundo, e que estamos debaixo de um feitiço, e que existe um príncipe imponente que quebrou o feitiço, e que existe um amor do qual jamais seremos separados. E voaremos de verdade um dia, derrotaremos a morte, e neste mundo, hoje “[vermelho] nas presas e garras”, um dia até as árvores dançarão e cantarão (veja Sl 65.13; 96.11-13).[2]

Em outras palavras, embora os contos de fadas não sejam fatos reais, a verdade de Jesus significa que todas as histórias que amamos não são de modo nenhum um escapismo. De certa forma, elas (ou as realidades sobrenaturais para as quais apontam) se tornarão realidade nele.

Para o cristão, é difícil saber o que dizer à criança que lê um livro e diz: “Eu queria que existisse um príncipe que nos salvasse do dragão. Eu queria que o Super-Homem fosse de verdade. Eu queria que pudéssemos voar. Eu queria que pudéssemos viver para sempre”. Você não pode simplesmente falar sem pensar: “Existe! Faremos tudo isso!”. No filme Hook — a volta do capitão Gancho, Maggie Smith faz o papel de uma Wendy já idosa, da história de Peter Pan. Há uma cena em que ela conversa com Robin Williams, um Peter Pan adulto sofrendo de amnésia. Ele se diverte com as histórias que Wendy conta a seus filhos, mas em determinado momento ela o encara e diz: “Peter, essas histórias são reais”. Se o Natal de fato aconteceu, isso significa que a raça humana inteira sofre de amnésia, mas as histórias que mais amamos não são na verdade apenas um entretenimento escapista. O evangelho, por ser uma história real, significa que todas as melhores histórias demonstrarão, em última análise, ser verdadeiras.


[1] Anthony Lane, “The Hobbit habit”, New Yorker, December, 10, 2001.
[2] A frase “a Natureza, vermelha nas presas e garras” é de Alfred Lord Tennyson, In memoriam, Canto 56 (Cambridge, Reino Unido: Cambridge University Press, 2013), p. 80.
Trecho extraído da obra “O Natal Escondido: A surpreendente verdade por trás do nascimento de Cristo“, de Timothy Keller, publicada por Vida Nova: São Paulo, 2017, pp. 40-44. Traduzido por Jurandy Bravo. Publicado no site Tuporém com permissão

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Campanha de Natal IBAB 2018




“O amor de Deus não se destina ao que vale a pena ser amado”, disse Martinho Lutero, “mas cria o que vale a pena ser amado”. O amor é generativo. O amor é a ação que nos faz existir. Deus nos amou primeiro, e por isso viemos a existir. Deus escolheu amar. Escolher amar é um ato de fé. Amar é acreditar na possibilidade humana de ser. Amar é a capacidade de conviver com o que ainda não é, na esperança-confiança-fé de que virá a ser. Assim Deus nos escolhe em amor todos os dias. Assim devemos escolher uns aos outros. Agarrados na promessa de que seremos o que fomos criados para ser, nos abraçamos e seguimos juntos para realizar em fé a imagem e semelhança de Deus que habita em nós. Amar é um ato de esperança, um movimento em direção ao futuro que se vê apenas pela fé. Tendo deixado para trás as ignorâncias, ilusões e fantasias da meninice, amar é escolher o real, o mundo com todas as suas contradições. Amar é coisa para gente grande. Porque somente o amor é capaz da esperança e da fé. Somente o amor é capaz de acolher a imperfeição e apontar caminho de redenção, salvação e libertação. Quem ama não julga. Quem ama não condena. Quem ama não desiste: “o amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba”. Amar é acreditar. Amar é esperançar. Amar é andar por fé. Amar é profetizar que o que é em parte um dia será pleno. Amar é mover-se no tempo presente com os olhos no futuro prometido, é confrontar o que é com o que deve ser, e agir sem hesitação para que o que se vê pela venha a se tornar realidade. Quem ama tem esperança. Quem tem esperança, ama. Quem ama tem fé. Quem tem fé, ama. Enquanto ainda não temos e não somos tudo o que desejamos e tudo o que seremos, vivemos em fé, esperança e amor. Porque esperamos e cremos que um dia teremos e seremos tudo quanto Deus prometeu, escolhemos amar” (@silviakivitz )

Campanha de Natal @oficialibab 2018



sábado, 10 de novembro de 2018

Almas Perfumadas

Carlos Drummond Andrade
Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta. De sol quando acorda. De flor quando ri. Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda.

Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça. Lambuzando o queixo de sorvete. Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher. O tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver.

Tem gente que tem cheiro de colo de Deus. De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul. Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo. Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso. Ao lado delas, pode ser Abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel.
Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra. Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza. Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria. Recebendo um buquê de carinhos. Abraçando um filhote de urso panda. Tocando com os olhos os olhos da paz. Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave de sua presença soprando nosso coração.
Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa. Do brinquedo que a gente não largava. Do acalanto que o silêncio canta. De passeio no jardim. Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo. Corre em outras veias. Pulsa em outro lugar. Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos Deus está conosco, juntinho ao nosso lado.
E a gente ri grande que nem menino arteiro. Tem gente como você que nem percebe como tem a alma Perfumada! E que esse perfume é dom de Deus.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Quantas Mais? (O Teatro Mágico)

Mundo
Que é feito da nossa percepção
Se há defeito há solução...
Pra tudo o que nos acontece... de súbito

Penso
O peito cede caos e bom senso
O que assusta é o silêncio
O que assusta é o silêncio

Luas
Sempre cheias de serenatas tuas
Ideias semeadas
Quantas mais?
Historias
Fugas
e voltas

Tempo
Que só existe como eternidade
Fracionado por nossa vontade
Insiste em nos esperançar...!
Pros dias!

Ruas
Sempre cheias de sementes tuas
Lutas são presentes
Quantas mais?

Revoltas!

Clamam paz
de volta!


Quantas mais?
(Fernando Anitelli / Daniel Santiago)

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Você encara o não como sentença ou desafio?


Quando nos deparamos com a palavra não em nosso caminho, seja na vida pessoal ou profissional, temos duas opções: encarar a situação como uma sentença ou como um desafio a ser conquistado. Particularmente, sempre encaro como um desafio. Um dos melhores exemplos que posso passar é como algumas crianças lidam com a questão. Diante de uma negativa, algumas choram, ficam tristes e se dão por vencidas, mas outras usam o não como uma alavanca para a busca do sim. Ficam mais determinadas, partem para outros artifícios e chegam a mudar completamente a abordagem para a conquista do tão esperado sim.

Quando trazemos essa realidade para a área profissional, temos que lidar com o não como um estimulante para alcançar nossos objetivos nas negociações. Para o vendedor, por exemplo, é uma excelente oportunidade de desenvolver técnicas para conquistar um cliente, já que ele é um dos profissionais que mais escuta a palavra não ao longo de toda a carreira. 

O não nos possibilita avaliar a situação de uma forma mais ampla, especuladora e nos força a encontrar um caminho diferenciado para que possamos chegar ao sim do triunfo. É preciso ter em mente que o diferencial entre uma vitória e uma derrota é como vamos lidar com os “nãos” que recebemos, para tentar encontrar uma saída cada vez mais assertiva no mundo dos negócios.

Todas as vezes que encontramos um desafio é fundamental lembrar que o não é um convite, é a premissa da busca pelo sim. O sim pelo sim de forma gratuita, não precisa de você, ele é autossuficiente. Por isso, a determinação, a inconformidade com o não é fundamental para nos manter vivos.  O não pode ser encarado como uma sentença ou como um desafio. Encare como um desafio!


Por: 
* Mário Rodrigues - diretor do Instituto Brasileiro de Vendas (IBVendas) www.ibvendas.com.br 

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Lifelong Learning – O poder do “não sei”


Uma característica fundamental daqueles que vivem num processo de vir a ser, aprendendo ao longo da vida, é perceber as necessidades, aquilo que ainda não sabe. Vivemos num tempo que não saber alguma coisa pode parecer sinal de fraqueza. Um líder tem que saber tudo? Um pai ou uma mãe tem que saber tudo? Um professor tem que saber tudo? A resposta mais provável na visão da maioria das pessoas é sim!

Quando despertamos para o que não sabemos, para necessidade de entender o que não conhecemos, abraçamos a oportunidade de pensar por novos ângulos e encontramos uma forma mais profunda de agir e de ser. Quando aprendemos o novo podemos compartilhar e alcançar novas respostas para as transformações que moldam o futuro.

"É preciso se deixar tingir pelas cores do que não sabemos."

De forma alguma quero dizer que devemos abandonar o que sabemos; quero dizer que temos que integrar dois mundos, aquele em que sabemos com aquele em que não sabemos. É preciso se deixar tingir pelas cores do que não sabemos, sair das respostas simples ou superficiais para construirmos maior profundidade a respeito do mundo que nos cerca.

Conversar de modo a ouvir mais que falar, de se surpreender com as visões de outras pessoas, conhecimento e experiências produzidas por estarmos juntos no despertar da nossa importância na construção do que está por vir. Somos uma série de encontros com o que não sabemos.

Por: Celso Braga
sócio-diretor do Grupo Bridge e professor supervisor pela Febrap


*Lifelong Learning (Aprendizagem ao longo da vida)

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Uma Pessoa Plena



1. Cultiva a autenticidade; se liberta do que os outros pensam.

2. Cultiva a autocompaixão; se liberta do perfeccionismo.

3. Cultiva um espírito flexível; se liberta da monotonia e da impotência.

4. Cultiva gratidão e alegria; se liberta do sentimento de escassez e do medo do desconhecido.

5. Cultiva intuição e fé; se liberta da necessidade de certezas.

6. Cultiva a criatividade; se liberta da comparação.

7. Cultiva o lazer e o descanso; se liberta da exaustão como símbolo de status e da
produtividade como fator de autoestima.

8. Cultiva a calma e a tranquilidade; se liberta da ansiedade como estilo de vida.

9. Cultiva tarefas relevantes; se liberta de dúvidas e suposições.

10. Cultiva risadas, música e dança; se liberta da indiferença e de “estar sempre no controle”.


Trecho do Livro: A Coragem de ser Imperfeito - Brené Brown


segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Meus trechos de Alice: no País das Maravilhas e Através do Espelho

Alice - No País das Maravilhas
Que isso lhe sirva de lição: Nunca perca a sua calma.        
       
Havia acontecido tanta coisa esquisita ultimamente que Alice tinha começado a pensar que raríssimas coisas eram realmente impossíveis.

Quem é você? Perguntou a Lagarta. –Eu… eu… nem eu mesmo sei, nesse momento… eu… enfim, sei quem eu era, quando me levantei hoje de manhã, mas acho que já me transformei várias vezes desde então.

Bem ja vi muitas vezes um gato sem sorriso, pensou Alice, mas um sorriso sem gato? É a coisa mais curiosa que já vi na minha vida.

Devia aprender a não fazer comentários pessoais disse Alice...é muito indelicado.

Tudo tem uma moral , é questão de saber encontra-la.

Seja o que você parece ser.

Mas não adianta voltar a ontem, porque eu era uma pessoa diferente.

A melhor maneira de explicar é fazer.

(…) Só que ninguém gosta de ficar mudando toda hora, sabe.

Outra coisa que descobri – Rir durante o dia faz com que você durma melhor a noite.

Uma coisa que eu descobri . O vento é uma imensa quantidade de ar respirável.

A maioria das pessoas é louca aqui, Alice.

 Alice No Pais Das Maravilhas
Pode chamar de ‘absurdo’ se quiser, mas já ouvi absurdos que fariam este parecer tão sensato quanto um dicionário.

Deveria saber em que direção está indo mesmo que não saiba o próprio nome!

Ela está naquele estado de espírito, em que quer negar alguma coisa... só que não sabe o quê!

... as coisas nunca caem para cima, sabe?

Bem, agora que vimos um ao outro, se acreditar em mim, vou acreditar em você. Feito?
  
Tente de novo: respire fundo e feche os olhos.

Quando eu uso uma palavra, num tom bastante desdenhoso, ela significa exatamente o que quero que signifique: nem mais nem menos.

Solumbrava: é aquela hora em que o sol vai baixando e as sombras se alongam.

Fale sempre a verdade... pense antes de falar... e depois escreva o que falou.

Vai ficar com febre depois de tanta reflexão!

Atender à porta? Ela vem pedindo o que?

Como é possível que vocês possam falar tão bem? Estive em muitos jardins antes, mas nenhuma flor podia falar.

Está ouvindo neve contra as vidraças? Soa tão agradável e suave! Como se alguém estivesse beijando a janela toda do lado de fora.

Ponha a mão na terra e sinta.

Vou sonhar com mil libras essa noite, tenho certeza!

Certas pessoas, parecem não ter mais juízo que um bebê!

Alice e Chapeleiro 

-É claro você tem sua família não é verdade, coisa importante é família e só temos uma.
-Chapeleiro, eu nunca mais verei você.
-Minha querida Alice, nos jardins da memória, no palácio dos sonhos é lá que nos encontraremos.
-Mas o sonho nunca é realidade!
-E quem decidiu o que é o quê? 
-Adeus chapeleiro

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

O QUE É VIVER COM PROPÓSITOS

 Por: Ed René Kivitz
Propósito é a razão porque algo existe. O propósito do fogo é queimar, da água é molhar, da faca é cortar, do veneno é matar e do remédio é curar. E o propósito do homem? Qual é a razão porque o ser humano existe? Trato desse assunto em meu livro Vivendo com propósitos, onde abordo os propósitos humanos universais derivados da afirmação bíblica: “Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” [Gênesis 1.27]. Você pode aprofundar sua reflexão a respeito dos propósitos universais lendo o livro. 
Mas existe também a ideia de propósitos pessoais e particulares. As tradições filosóficas e religiosas se ocupam em abordar essa questão de como descobrir a razão da existência de cada ser humano particular. Em quase todas elas existe uma noção de que o propósito para a vida humana passa pelo senso de vocação, isto é, cumprir um chamado, se incumbir de uma tarefa atribuída pela vida, pelo destino ou pelos deuses.
Na tradição cristã podemos tomar o apóstolo Paulo como referência. Paulo, sem dúvida um dos maiores gênios da humanidade, responsável por fazer a síntese entre as culturas judaica e grega de sua época, que deu origem ao que chamamos cristianismo que fundamenta a cultura ocidental, acreditava que sua vida somente valia a pena porque cumpria um propósito divino.
Veja o que ele diz:
A respeito de alguns assuntos, eu lhes escrevi com toda a franqueza, como para fazê-los lembrar-se novamente deles, por causa da graça que Deus me deu,de ser um ministro de Cristo Jesus para os gentios, com o dever sacerdotal de proclamar o evangelho de Deus, para que os gentios se tornem uma oferta aceitável a Deus, santificados pelo Espírito Santo.  [Romanos 15.15,16] 
Irmãos, quero que saibam que o evangelho por mim anunciado não é de origem humana.Não o recebi de pessoa alguma nem me foi ele ensinado; pelo contrário, eu o recebi de Jesus Cristo por revelação.Deus me separou desde o ventre materno e me chamou por sua graça. Quando lhe agradourevelar o seu Filho em mim para que eu o anunciasse entre os gentios, não consultei pessoa alguma.[Gálatas 1.11-16]
Não me importo, nem considero a minha vida de valor algum para mim mesmo, se tão-somente puder terminar a corrida e completar o ministério que o Senhor Jesus me confiou, de testemunhar do evangelho da graça de Deus. [Atos 20.24]
Paulo foi chamado de “apóstolo aos gentios”, responsável por levar a mensagem de Jesus Cristo para além das fronteiras do judaísmo. Dizia que  isso era o “ministério que o Senhor Jesus me confiou”. A palavra “ministério” é tradução do grego “diaconia”, e indica “ser comissionado por Deus para prestar um serviço, fazer um trabalho, cumprir uma tarefa”. Esse é, portanto, o sentido secundário de propósito: uma diaconia.
Como você pode saber se recebeu de Deus uma diaconia, e sua vida tem um propósito a cumprir? Sugiro quatro critérios:
Primeiro, o propósito é algo que você faz independentemente de remuneração. Na verdade, o propósito é algo que você faz mesmo que precise pagar para fazer. Em alguns períodos de sua vida o apóstolo Paulo trabalhou como fabricante de tendas durante a semana e se dedicou aos sábados para divulgar a mensagem de Jesus nas sinagogas. Fabricar tendas era sua profissão e seu trabalho, enquanto divulgar a mensagem de Jesus era seu propósito, sua vocação. Em outras ocasiões, quando encontrava patrocinadores e financiadores e mantenedores para se dedicar exclusivamente ao seu propósito e vocação, não hesitou em deixar de lado a atividade de fabricante de tendas [Atos 18.1-5]. O propósito, portanto, é algo que você faz mesmo sem receber qualquer remuneração.
Em segundo lugar, o propósito é algo que você faz para beneficiar mais pessoas além de você mesmo, sua família e as pessoas do seu círculo mais íntimo de afetos. Cuidar de si mesmo e dos seus é básico para qualquer pessoa. O propósito tem a ver com um universo muito maior e mais abrangente do que as pessoas que você convive e que você tem afinidade. O propósito implica prestar um serviço útil para uma coletividade, a sociedade onde você está inserido, e até mesmo o mundo todo. Aquilo que você faz em benefício da família e dos amigos pode ser sua obrigação, ou no máximo um hobby, mas não um propósito e uma vocação.
Outro critério para identificar um propósito é o nível de sacrifício que você está disposto a fazer para que ele se realize. Um propósito exige sacrifícios de doer. Para realizar um propósito você abre mão das coisas, das oportunidades e possibilidades que quem não tem o mesmo propósito não precisa ou não deseja sacrificar. O propósito também exige que você assuma compromissos e se entregue num nível de dedicação que quem não compartilha do mesmo propósito não se sente impelido ou na obrigação de assumir.
Finalmente, o quarto critério para saber se você tem mesmo um propósito, é constatar que aquilo que você faz dá sentido e significado para sua vida. O propósito leva a nossa vida para além da mediocridade, isto é, além da mera sobrevivência. O propósito faz com que nossa vida seja incomum. Nesse sentido, deixar de cumprir o propósito e morrer é quase a mesma coisa. Deixar de prestar a diaconia, fracassar ou ser negligente em cumprir aquele serviço, equivale a ser medíocre, cair na vala comum de quem vive para comer e come para viver. É isso o que apóstolo Paulo diz quando afirma que sua vida não tem valor caso deixe de cumprir o ministério que recebeu do Senhor Jesus. Uma vida sem valor é mera sobrevivência, é fútil, sem sentido e não gera interferência na realidade - não faz diferença. Martin Luther King Jr. disse: “se você ainda não encontrou uma causa pela qual valha a pena morrer, ainda não encontrou razão para viver”.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Existem pessoas cruéis disfarçadas de boas pessoas



Existem pessoas cruéis disfarçadas de boas pessoas. São seres que machucam, que agridem por intermédio de uma chantagem emocional maquiavélica baseada no medo, na agressão e na culpa. Aparentam ser pessoas altruístas, mas na verdade escondem interesses ocultos e frustrações profundas.

Muitas vezes ouve-se dizer que “quem machuca o faz porque em algum momento da vida também já foi machucado”. Que quem foi magoado, magoa. No entanto,  ainda que por trás destas ideias exista uma base verídica, existe outro aspecto que sempre nos custa admitir: A maldade existe. As pessoas cruéis, por vezes, dispõem de certos componentes biológicos que as empurram em direção a determinados comportamentos agressivos.

 “Não há maldade mais cruel que a que nasce das sementes do bem.” 
-Baldassare Castiglione-

O cientista e divulgador Marcelino Cereijudo nos assinala algo interessante. “Não existe o gene da maldade, porém há certos aspectos biológicos e culturais que a podem propiciar”. A parte mais complexa deste tema é que muito frequentemente tendemos a buscar rótulos e patologias em comportamentos que simplesmente não entram dentro dos manuais de psicodiagnóstico.

Os atos maliciosos podem ocorrer sem que exista necessariamente uma doença psicológica subjacente. Todos nós, em algum momento da nossa vida, já conhecemos uma pessoa com este tipo de perfil. Seres que nos presenteiam com bajulação e atenção. Pessoas agradáveis, com êxito social, mas que em privado delineiam uma sombra obscura e alargada. Na profundeza dos seus corações respira a crueldade, a falta de empatia, e até mesmo a agressividade.

As pessoas cruéis e a molécula da moral
Tal como dissemos anteriormente, até hoje ninguém conseguiu identificar a existência do gene da maldade. No entanto, nos últimos anos aumentaram os estudos sobre um aspecto fascinante: a denominada “molécula da moral”. Para compreender melhor o que é esta estrutura, iremos nos contextualizar a partir de uma história real. Uma história terrível, que lamentavelmente acontece com muita frequência.

Hans Reiser é um programador norte-americano famoso por ter criado os arquivos ReiserFS. Atualmente, e desde 2008, está na prisão de Mule Creek por ter assassinado sua esposa. Ele não teve problema em se declarar culpado e em revelar onde enterrou o corpo de Nina Reiser. Como dado curioso, vale a pena dizer que este especialista em programação dispõe de uma inteligência prodigiosa, ao ponto de ter iniciado os seus estudos universitários ainda adolescente.

Depois de um julgamento rápido e de ter ingressado na prisão de San Quintín, decidiu preparar ele próprio o seu recurso. Através de 5 folhas escritas à mão, argumentou  que o seu cérebro funcionava de maneira diferente. Reiser tinha conhecimento dos estudos que estavam a ser realizados sobre a oxitocina e a utilizou como argumento. Segundo ele, tinha nascido com o seguinte problema: o seu cérebro não produzia a chamada molécula da moral. Carecia de empatia.

Obviamente, e como era de se esperar, este argumento não o impediu de cumprir a pena perpétua. No entanto, o tema sobre a origem da maldade voltou a entrar em debate. Nos dias de hoje, dá-se pleno valor ao fato de que a oxitocina é o hormônio que faz de nós seres “humanos” na sua vertente mais autêntica. Pessoas educadas e preocupadas em ajudar, cuidar e empatizar com os nossos semelhantes.


Como se defender da crueldade camuflada
No nosso cotidiano, nem sempre nos relacionamos com pessoas tão cruéis como a anteriormente citada. Porém, somos vítimas de outro tipo de interações: as de falsa bondade, a agressividade encoberta, a manipulação, o egoísmo sutil, a ironia mais daninha, etc.

 “O mundo não está ameaçado pelas pessoas más, e sim por aquelas que permitem a maldade.” -Albert Einstein-

Estes comportamentos podem ser resultado de vários aspetos. Carência de inteligência emocional, um ambiente pouco afetivo onde a pessoa cresceu ou até mesmo um déficit na liberação da oxitocina. Tudo isto talvez determinará essa agressividade mais ou menos encoberta. De qualquer forma, não podemos esquecer que quando falamos de agressividade, não estamos nos referindo exclusivamente ao dano físico.

A agressão emocional, a instrumental ou a verbal são feridas menos denunciáveis devido à necessidade de serem provadas, mas são mais corriqueiras e por isso temos que nos defender. Explicaremos como.

Pessoas cruéis: saber reconhecê-las e evitá-las
Todos podemos ser vítimas das pessoas cruéis. Não importa a idade, o status ou as nossas experiências anteriores. Este tipo de pessoa pode ser encontrado no meio da família, em ambientes de trabalho e em qualquer outro cenário. No entanto, podemos identificá-las de várias formas.

A pessoa de coração obscuro nos seduzirá com a mentira. Elas irão se camuflar por trás de palavras bonitas e atos nobres, mas pouco a pouco surgirá a chantagem. E mais tarde, a criação do medo, da culpa e da violência mental.
Perante estes mecanismos, cabe apenas uma opção: a não-tolerância. Não importa que seja a nossa irmã, nossa parceira ou um colega de trabalho. Os perturbadores da calma e do equilíbrio só buscam uma coisa: acabar com a nossa autoestima para ter o controle.

Teremos a sensação clara de que não há saída. De que elas nos têm sob suas redes. No entanto, vale recordar que “é mais poderoso aquele que é dono de si mesmo”. Por isso, é importante acabar com o jogo da dominação e da agressividade com determinação.

Os jogos da dominação e da agressividade encoberta são muito complexos. No entanto, é necessário agir com rapidez para remover armadilhas e reagir a ameaças veladas. No momento em que sentirmos desconforto ou preocupação em relação a certos comportamentos, só existe uma opção: a distância.

Fonte: www.amenteemaravilhosa.com. br

quinta-feira, 19 de julho de 2018

~O tempo e como nos relacionarmos com ele~

Por: Virgilio Magalde
Site: www.contioutra.com


Tempo, tempo, tempo…

O tempo passa; adianta; corre; voa; avança; leva; faz esquecer e faz lembrar; faz ter esperança e faz perder a esperança; dá paciência e a tira também; faz ter certezas e faz perder todas elas; dá o controle por horas-minutos-segundos e faz perder o controle por avançar - aconteça o que acontecer -; eterniza momentos e faz outros apenas serem um lapso; traz amigos-famílias-amores e leva amigos-famílias-amores; une-nos em determinados períodos e afasta-nos em outros…

AH, SE NÃO FOSSE O TEMPO…

Esse tempo que inventamos, que montamos, que criamos, que contamos, que somamos, que diminuímos, que multiplicamos, que dividimos e que nos guia em nosso dia e em nossas decisões.

Ah, homem, que não sabe quanto tempo tem e nem quando tudo aconteceu. Não sabe quando chegou aqui, não sabe se já viveu aqui, não sabe se já foi a outros lugares, não sabe se nascerá, não sabe todos que são seus pais, mães e irmãos.

Que horas são agora?

Quem disse isso? Foi o céu, o sol, a lua, o mar, as estrelas, a terra, a natureza? Mas nenhum deles lhe mandou viver por isso. Mendigamos segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos e décadas, sem saber nada sobre isso. Apenas tratamos da matemática, mas esquecemos a nossa história, a nossa geografia, a nossa física, a nossa química e que tudo isso está em constante mudança.

Não deixe o tempo enjaulá-lo. Saia dos seus limites. Você provavelmente tem um tempo para tudo: trabalhar (talvez o maior deles), comer, dormir, ler, escrever, exercitar-se, namorar, cuidar, comprar, brincar (talvez o menor deles). Talvez não sejamos sempre a mesma pessoa: quando brinco, posso ser diferente de quando trabalho; quando cuido, posso ser diferente de quando namoro… E assim nos vamos particionando. Ficamos partidos e segmentados em personalidades, enquanto o nosso maior objetivo é ser união.

Temos família, parentes, amigos, colegas e namorados para promover essa união. Temos um trabalho para fazer algo em conjunto, temos uma religião para nos aproximar de algo maior, temos um relacionamento para nos unir em pensamentos e emoções e temos uma família para aprendermos a viver em amor.

Inventamos o dinheiro, mas, na verdade, o que estamos sempre trocando é o nosso tempo. Esse tempo que poderia ser mais aproveitado, ou não. Vamos à escola, para que o nosso tempo possa ser valorizado no futuro. Na faculdade, também acontece o mesmo: obtermos uma profissão que seja bem remunerada. Quando trabalho, assino um contrato de que receberei X reais para trabalhar X horas diárias/semanais. Para quem estou vendendo o meu tempo? Vale a pena vendê-lo? Gosto disso?

AH, SE NÃO FOSSE O  TEMPO…

Teríamos tempo para nossos pais, para os nossos irmãos, para os nossos amigos, para os nossos amores, para sermos os nossos melhores sonhos, para fazermos o que gostamos, para estudarmos o que nos motiva… Teríamos tempo para sermos quem realmente estamos aqui para ser.

Tempo, já que você me deu tudo e um dia vai me tirar tudo, quero que saiba que não vou mais o seguir. Não vou mais me basear em você, não vou dividi-lo, não vou mais contabilizá-lo. Você continuará, mas uma grande parte de mim, não. E quero usá-lo, mas sem basear a minha vida em segundos-horas-minutos-dias. Eu quero deixar o passado e também o futuro. Eu quero o gosto de cada momento. Eu quero o agora, que é a única coisa que me deve, por me ter deixado chegar até aqui. Eu quero é viver sem medo do que aconteceu no passado e sem planejar um amanhã perfeito. Eu quero aprender a aceitar o que tem para agora e quero viver nisso, sem cobranças minhas ou dos outros.

Tempo, se eu viver por você, na verdade nunca terei vivido. Um dia tudo será passado. Quero aproveitar cada respiração, toda vez que eu tomar um banho, toda vez que eu colocar na minha boca aquela deliciosa comida, toda vez que os meus pés tocarem no chão e toda vez que sair um som da minha garganta.

Podemos experimentar dizer:

Tempo, me despeço de você, sabendo que, no fundo, você não vai embora, mas sim aquele velho padrão social. Eu o saúdo e agradeço.