quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

O Caminho da Simplicidade

*Leonardo Torres

Todos temos um grau de acumulador. Essa patologia, quando radical, é muito importante e deve sempre ser acompanhada de tratamentos. Mas nós Ocidentais somos, seja em maior ou menor grau, um pouco acumuladores.

A nossa forma de pensar, viver e agir no mundo vem dos povos do deserto, povos que lidavam com constante escassez. Imagine-se em um deserto todos os dias do ano, durante vários anos, buscando água, morrendo de fome, passando pelo frio da noite e pelo calor intenso do dia. Os povos do deserto, guerreiros, conviviam com uma gigante necessidade. 

Mesmo depois do deserto, o Ocidente viveu duas grandes Guerras, que também nos colocaram em condições de escassez e de extrema necessidade. O Ocidente viu sua sociedade retornar ao deserto, só que desta vez, um deserto de escombros, destruição e falta de suprimentos. Não é à toa que os nossos familiares mais antigos têm uma tendência maior em estocar comida. 

Atualmente, o próprio Capitalismo, a partir do pensamento de Max Weber e Walter Benjamin, utiliza esse sentimento de escassez e de necessidade que foi gerado há séculos. Esse sentimento nos impulsiona a cada vez mais acumular. E não importa se é dinheiro, roupas, crushes, fotos, curtidas nas redes sociais, etc.. Em um sentido mais amplo, a humanidade inteira faz isso com o planeta Terra, usurpando todos seus recursos. 

Na verdade, nós precisamos acumular para tentar tapar o buraco que nós sentimos em nossa alma. Esse buraco é tanto uma herança milenar dos povos do deserto, quanto nossos complexos e frustrações do cotidiano e de nossa história de vida. Ele é filo e ontogenético. 

Há esperança? Muitas pessoas estão tentando fazer o caminho inverso, buscando uma maneira de viver mais simples. Os depoimentos apontam que esta nova forma de viver é libertadora. Mujica é um desses exemplos, entrando e saindo da presidência com seu fusquinha. 

A liberdade que se experimenta ao tomar essa atitude de vida é porque, no fundo, não somos nós que temos coisas, são as coisas que nos tem. 
Esse caminho, o da simplicidade, pode ainda auxiliar na preservação do planeta. Se nós não formos mais conscientes ao utilizar os recursos naturais, nós, no fim, transformaremos tudo em um grande deserto. 


*Leonardo Torres, 28 anos, Palestrante, Professor e Doutorando de Comunicação e Cultura. 

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Meus 40 anos



Cheguei aos 40.
Ah...como gostaria de pegar nas mãos da Denise de 20 anos e dizer : Querida você não vai amanhecer  nos seus 40 anos mais segura, mais equilibrada, super madura, com habilidades manuais, de cabelos brancos, convivendo com  filhos adolescentes ou arrumando as crianças para irem pra escola. 

Você, Denise aos 40 vai continuar com dúvidas,  as vezes terá uns 5 minutos de loucura,  sabedorias inesperadas...misturados com momentos “let´s go...carpe diem...deixa a vida me levar”.  Ah e quanto as habilidades manuais... hummm ...botão você saberá pregar.

Aos 40 você vai se amar. Prova?  Você vai conseguir se olhar no espelho e  se aceitar, aceitar como você é...do jeito que você é (...lágrimas)

Não se assuste, vai achar estranho te chamarem de senhora.
Massssss...ficará radiante quando disser sua idade e responderem:  Q U A R E N T A?...Não parece de jeito nenhum. Parece bem menos.

Aos 40 Denise , não estará envelhecida, vai gostar de aprender coisas novas. Terá desafios pela frente, sonhos para realizar...
E tem muita coisa pra contar:
Vai ter sobrinhos lindos.. J  vai gostar de super heróis...vai  preferir  uma boa leitura, filmes, seriados, cinema... terá poucos amigos mas serão verdadeiros.. estará casada com o homem da sua vida.  Ahhhh, e sabe o sonho adolescente de ter cabelo vermelho...você vai realizar quase aos 40... porém  vai durar 2 dias...kkkk mas vai ter cabelo vermelho.
Vai conquistar muitas coisas.
Viverá  dores, alegrias, vai chorar, rir.

A Denise de 40, acordou hoje pasma e espantada com a velocidade do tempo.
....querendo saborear a vida aos goles, aprendendo e porque não ensinando. 

Gratidão Senhor pelos meus 40 anos de vida.
Porque somente no Senhor eu vivo, me movo e existo.

sábado, 2 de fevereiro de 2019

UMA SINDROME CHAMADA COMPLEXO DE SUPERIORIDADE



Acontece nas melhores famílias. O cara começa do nada, trabalha incessantemente, come alguns sacos de sal, até que dá certo na vida. Muda de patamar e passa a morar na cobertura. Palmas pro cara. Finalmente ele alcança uma vista privilegiada. Olha para baixo, vê o caminho percorrido e se orgulha do esforço. Valeu a pena. E o que ele imagina ser sua hora de paz é justamente o momento mais perigoso. É quando assombra o fantasma da superioridade.

Convencido de seu inesgotável talento, o pobre vencedor não consegue descer do salto. Acaba condenado aos calos — e pode sangrar os pés, mas dali não desce. Pessoas ou empresas nessa situação passam a ter uma visão idealizada de si mesmas. Passam a acreditar no que andam falando de suas figuras.

Desprovido de insegurança, o mito não pisa no chão: flutua. Não precisa de ninguém: os outros é que precisam dele. Não há mais o que conquistar: o mundo é que passa a sonhar em conquistá-lo.
Você já deve ter convivido com um superiorizado bem de perto. 

É a empresa que não valoriza o colaborador, porque acredita que é um privilégio trabalhar ali. O chefe que acredita ter ensinado tudo ao subordinado, e nem imagina o quanto com ele aprendeu. O empregador que usa a ameaça de demissão como método de gestão. Não é preciso ir longe: é o homem certo de que nunca vai ser deixado pela namorada — até descobrir que ela tem um amante. 

Complexo de superioridade é uma síndrome perigosa à qual todos estamos sujeitos. Uma espécie de miopia que nos impede de ver o mundo como é.

Lá do alto, enxergamos mal o que ficou abaixo. Tudo fica pequeno e longe demais, até o espelho. Oposto ao complexo de inferioridade, que nos mantém ligados demais ao medo e à insegurança, este outro nos faz acreditar que nada mais é preciso temer. E é aí que mora o perigo. Cair de um ou dois metros de altura provoca, no máximo, uma fratura. 

Cair do 10º andar é morte na certa. Do alto ao nada, em poucos segundos. É bom não se perder de sua humanidade falível, a mesma que o levou à conquista. Duvide um pouco (e sempre) de si mesmo. 
É a forma mais bonita e humana de caminhar.

Por: Cris Guerra