Porque o viver efetivo — com propósito e plenitude — só se dá através do outro. Preciso do outro para experienciar tudo o que a vida tem para me oferecer. E é aqui que alguns se acovardam, porque na aceitação do outro, no compromisso que se assume, pode vir a bênção e a maldição, a tristeza e a alegria; a salvação e a danação. Mas a vida é isso. É saber que se está em risco, é ter ciência que é preciso estar a altura de qualquer acontecimento. E até nesse enfrentamento, o outro é fundamental. É do outro que vem o conhecimento sobre nós mesmos, o discernimento para lidar com a vida com lucidez e serenidade.
Às vezes, o outro mostra uma face do mundo que preferíamos não conhecer. Uma pessoa pode passar a vida inteira sozinha e nunca sentir solidão. Mas um dia, inesperadamente, conhece um outro, descobre o amor, e junto com o amor descobre que está só. (…) Mas é também do outro que vem o mais intenso e acessível êxtase. O grande cronista Rubem Braga descreveu maravilhado o poder do olhar da mulher que ele amava. “De tudo o que ele (o olhar dela) suscita e esplende e estremece e delira em mim, existem apenas meus olhos recebendo a luz do seu olhar, que me cobre de glórias e me faz magnífico”.
Pode haver tristeza, pode haver desilusão; mas toda a alegria do mundo, todo o encantamento de viver pode estar agora mesmo à sua frente, no olhar do outro.
Por: MARGOT CARDOSO
Vida Simples