Por.: Ed René Kivitz
AOS MEUS AMIGOS E IRMÃOS
O debate político no Brasil descambou para um vale-tudo de torcidas organizadas em que argumentos e lucidez são sufocados pela passionalidade, ignorância, desonestidade intelectual, mau caratismo e uma boa dose de interferências diabólicas.
É bom falar claro em tempos de usos e abusos de palavras e instrumentalizações que fomentam a discórdia e a confusão. Eis meu posicionamento:
SOU CRISTÃO. Minha identidade primeira não é étnica, cultural, de gênero, de classe social ou identificação ideológica. No espelho vejo refletida a face de um homem criado à imagem e semelhança de Deus, que nasceu de novo pelo Espirito Santo, para viver no reino de Deus submisso à autoridade absoluta e exclusiva de Jesus Cristo.
Não sou marxista. Não sou comunista. Não sou esquerdista. O que creio e penso tem grande influência dos teólogos latino-americanos, cuja leitura da Bíblia é grandemente influenciada, além da filosofia, pelas ciências sociais. Comprometidos com a práxis da igreja em missão, os teólogos latinos geralmente deixam o debate metafísico em segundo plano e se ocupam em responder evangelicamente, isto é, com o Evangelho, às demandas de uma América Latina flagrantemente pobre, oprimida e também ferida pelos seus próprios equívocos.
Ainda assim, sou culpado do pecado de ingenuamente acreditar que, quando luto pelos ideais utópicos da justiça e da paz social, estou obedecendo a ética dos profetas de Israel e a proposta do estilo de vida que Jesus expressa nos Evangelhos, seguido e testemunhado pelos apóstolos, e sinalizado pelos cristãos ao longo dos séculos.
Quando ouço falar em "golpe", minha posição como cidadão é que o verdadeiro golpe, origem do momento sócio-político que vivemos no Brasil, atende pelo nome de mensalão. A compra de votos de parlamentares, alegadamente a título de uma questionável governabilidade, mas que, de fato, se prestava a sustentar um projeto de perpetuação de poder. Não apoio o atual governo do Brasil. Não sou petista. Não sou tucano. Não sou advogado de defesa de partido político.
Seguindo a tradição do protestantismo da Reforma, afirmo a separação entre a Igreja e o Estado. Somando com os que defendem o Estado de Direito, as instituições republicanas e a ordem constitucional, acredito no princípio de alternância de poder, no melhor espírito de uma sociedade plural.
Lamento profundamente que a chamada Teologia da Missão Integral e o movimento que teve como marco o Pacto de Lausanne, celebrado em 1974, no Congresso Internacional de Evangelização Mundial na Suíça, tenham sido indevidamente associados a uma ideologia, um partido político e seus respectivos personagens.
Conforme as Escrituras, oro para que Deus abençoe as autoridades civis e considero que os governos são constitutivos do ordenamento divino para a promoção da justiça e do bem comum em sua máxima abrangência, incluindo o combate ao mal e a punição dos maus nos termos da lei. Os governos que se desviam desses propósitos perdem sua legitimidade.
O momento que vivemos em nosso país exige a busca incansável da paz, da fraternidade e da cooperação. Meu compromisso como ser humano, cidadão e cristão é empreender uma jornada rumo a uma sociedade de justiça e paz, onde existe sempre lugar para a reconciliação e inclusão de todos na mesa em que o Pai, o perdão e o pão são nossos. Isso só é possível na trilha da solidariedade, da compaixão e da generosidade.
Encerro lembrando o episódio chocante de janeiro de 2015, quando um terrorista islâmico atentou contra um supermercado kosher em Paris exatamente quando os judeus compravam alimentos para o Shabbat. Uma funcionária muçulmana escondeu vinte judeus, salvou suas vidas e, quando elogiada pela coragem, simplesmente disse: "Somos todos irmãos. Essa não é uma questão de sermos judeus, cristãos ou muçulmanos. Estamos todos no mesmo barco e precisamos nos ajudar uns aos outros para superarmos juntos essa crise".
Não importa se sua camiseta é verde e amarela ou vermelha. Não esqueça que somos todos brasileiros. Somos todos irmãos.
Seja a benção de Deus sobre todos nós.
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